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Se você não sabe a MAGNITUDE, então você não sabe!

Atualizado: 27 de jun.


Se você não sabe a magnitude você não sabe

Prof. Dr. Wellington Lunz

Quero dar um importante aconselhamento comportamental pertinente ao conhecimento científico (embora valha para a vida também). Mas, antes, eu preciso contextualizar.

No perfil no instagram que eu já tive (não tenho mais), eu fiz um desafio nos stories perguntando “qual era o tamanho médio de células musculares esqueléticas”. Eu dei quatro alternativas, e as pessoas escolhiam a que achavam estar correta. E apenas 6% acertaram a alternativa correta.

Em outro dia eu fiz um desafio sobre “qual era o tempo médio de contração de unidades motoras lentas”, e 43% acertaram. Melhorou, mas ainda ficou abaixo da minha expectativa, uma vez que eu dava 4 alternativas, das quais pelo menos duas o bom senso já ajudava a eliminar.

Não há problema em não saber tais respostas, pois o valor PRÁTICO desse conhecimento é nulo para quem prescreve treinamento físico no dia a dia. Entretanto, há um valor PEDAGÓGICO imenso nestes testes e seus resultados. Entenda:


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Por que o percentual de erro foi tão grande? Minha hipótese neurocientífica é a seguinte: 

Toda vez que recebemos informações na forma basicamente de adjetivos ou verbos qualificadores ou comparadores (ex: ‘melhor’, ‘pior’, ‘bom’, ‘ruim’, ‘rápido’, ‘lento’, ‘aumentou’, ‘reduziu’, ‘preveniu’, ‘causou’, etc.), sem que venham acompanhadas de uma expressão QUANTIFICADORA (magnitude), nosso CÉREBRO buscará algum referencial métrico para quantificar.

A gente nem percebe isso. É tudo inconsciente. Um bom exemplo para entender o que estou chamando de métricas não percebidas ocorre quando estamos dirigindo numa rodovia, e desejamos fazer uma ultrapassagem. Numa situação dessas nosso cérebro faz cálculos complexos:

‘O cérebro precisa colocar na equação a velocidade do carro que estamos dirigindo e do carro que está a frente; precisa avaliar o comprimento do carro da frente e o comprimento de reta da rodovia; também julga a potência do carro que estamos dirigindo, a velocidade de um eventual outro carro que venha na contramão, e se há ou não acostamento na rodovia’. Enfim, tudo isso em poucos segundos.

Mas não temos a menor condição de dizer conscientemente qualquer número que nosso cérebro tenha usado nos cálculos. É uma equação complexa que nem percebemos que fazemos. Mas voltando a minha hipótese.

Quando dizemos ou quando nos dizem que algo é ‘melhor, pior, bom, ruim, rápido, lento, aumentou, reduziu, preveniu, causou, etc.’, nosso cérebro vai ancorar esses qualificadores a alguma métrica quantificadora. Assim como no exemplo da rodovia, serão valores baseados em grande parte nas experiências (memória). Veja:

Quando, por exemplo, fazemos uma graduação de educação física, na disciplina biologia aprendemos a ver células em microscópios. E isso nos remete às coisas invisíveis. Portanto, muiiito pequenas. Então, o que nosso inconsciente faz quando ouve ou lê a palavra célula? Ele certamente ancora num ‘valor’ (magnitude) que remete às coisas invisíveis. E essas coisas estão no nível dos micrômetros para baixo.

De modo que quando somos desafiados a responder sobre qual o tamanho de uma célula, o valor que será verbalizado virá na forma do que chamamos de ‘intuição’. Ou seja, é o inconsciente apresentando para a consciência um número que faz sentido.

Então, recapitulando. Qual o tamanho médio de células musculares esqueléticas? Se você pensou na casa dos nanômetros ou micrômetros, terá errado como a maioria. Pois a maioria das células musculares esqueléticas está na casa dos centímetros.

Para você ter ideia, as maiores miofibras esqueléticas conhecidas são do músculo sartório, que em um adulto pode variar de 20 a 50 cm, tendo média de aprox. 40 cm.

Isso vale também para unidades motoras lentas (ou rápidas). O que é algo lento? Se aprendemos na graduação sobre unidades motoras ‘lenta’ ou ‘rápida’, mas sem que o/a professor/a tenha expressado a magnitude disso, nossos cérebros irão fixar um valor que esteja nas crenças inconscientes sobre o que é algo lento e rápido. 

Isso poderia ser ancorado em algo lógico para o cérebro como o seguinte:


'Se eu faço ações musculares de ~1 segundo na fase concêntrica, e ~1 segundo na excêntrica, então pode parecer lógico para o cérebro vincular a velocidade das unidades motoras nisso. É um tipo de ‘lógica’ usada pelo inconsciente para diminuir o desconforto da NÃO resposta'.


Mas, para você ter ideia, o tempo de contração de uma unidade motora lenta é aprox. 100 milisegundos. Ou seja, a décima parte de um segundo. Isso é lento?

Não é lento para nossas crenças e referências do dia a dia, mas é lento quando comparado com as unidades motora rápidas, que contraem num tempo menor que a metade desse valor.

E por que é tão mais rápido que nossas ações musculares? É porque as ações musculares não são produto de uma única célula trabalhando, e a velocidade de "saída" não é a mesma que velocidade de "entrada". Pense em você empurrando um caminhão. A força (massa x aceleração) que você impõe não gera no caminhão uma aceleração igual a quando você usa a mesma força para empurrar um carrinho de brinquedo.

Mas, você deve estar me perguntando agora onde está o valor PEDAGÓGICO disso tudo, e onde entra o tal do aconselhamento que eu daria? Vamos lá!

Está no fato de que nas redes sociais, e nas conversas informais, e no marketing e até mesmo no mundo acadêmico-científico, há muita gente dizendo que algo é “melhor, pior, bom, ruim, rápido, lento, aumenta, reduz, previne, causa, etc.” sem dizer a MAGNITUDE disso.

Semana passada fiz um post (aqui) onde eu comentei de um artigo de revisão que mostrava várias pesquisas que apontavam que o HMB (hidroxi-metilbutirato) gerava resultados positivos, mas a revisão não dizia a magnitude.

Falei também do panfleto da farmacêutica (aqui), a qual fez a mesma coisa. Isso não é à toa. Ao dizer que algo é bom sem dizer ‘quão bom’, a farmacêutica deixa para o/a leitor/a atribuir um valor ancorado em suas crenças.

Portanto, se a MAGNITUDE não é apresentada, desconfie muito da informação. Posso até aproveitar para desafiar você, meu leitor e leitora, maioria com formação em educação física, que respostas de MAGNITUDE você daria para as seguintes afirmações que fazemos recorrentemente na nossa área:

Exercício é ‘bom’ para reduzir colesterol... mas é bom quanto?

Exercício é ‘bom’ para reduzir pressão arterial... mas é bom quanto?

Exercício ‘diminui’ a chance de desenvolver cânceres... mas diminui quanto? E quantos tipos de cânceres?

Exercício ‘diminui’ gordura corporal... mas quanto?

Daria para eu passar o dia fazendo outras questões. Mas faço tais provocações porque vejo muita gente com formação em educação física que fala que exercício é bom para quase tudo, mas não sabe a magnitude de quase nada.

Ano passado uma amiga me disse que um médico pediu para ela fazer caminhada porque ela precisava reduzir o colesterol. Eu disse a ela:

‘Tenho uma boa e uma má notícia para você. A má é que a caminhada praticamente não reduz colesterol. A boa notícia é que a caminhada protegerá seu coração e te protegerá contra a morte precoce, mesmo sem reduzir colesterol’.

E, claro, eu disse pra ela as magnitudes aproximadas desse benefício (varia bastante, mas fica entre 10% a 50% de proteção, a depender do volume e intensidade, e também dos diferentes métodos dos estudos). Então, para concluir, meu conselho é:

‘NÃO aceite expressões que qualificam e comparam sem que venham acompanhadas da MAGNITUDE (ainda que aproximada). Não aceite, inclusive, que você diga para os outros sem ter em mente a magnitude. Auto vigie-se! Ou seja, questione a você mesmo se você sabe qual é a magnitude (ainda que aproximada, ex: média, mediana, tamanho de efeito, percentual).

Questione sempre ‘qual é a magnitude?’. Se a pessoa não souber de cabeça, peça-lhe a referência para você acessar. Esse conselho eu aprendi no mundo científico. Me ajuda a não ser enganado e a não enganar inconscientemente os outros (um erro que às vezes chamamos de ‘erro honesto’, pois não é intencional... mas continua sendo um erro).

E se você compartilhar e curtir esse post, me motivará a continuar escrevendo. Por último, quem quiser receber as novas postagens desse Blog, basta clicar aqui e se inscrever na Newsletter. E em tempos de escritas por inteligência artificial (ex: chatGPT e bard), vale dizer que essa postagem NÃO usa isso. É feita exclusivamente das minhas leituras e interpretações.

E quem quiser citar essa postagem, pode ser mais ou menos assim:

Lunz, W. Se você não sabe a MAGNITUDE, então você não sabe! Ano: 2024. Link: https://bit.ly/3w24aju [Acessado em __.__.____].

Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.


 
professor wellington lunz

Autor: Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Tem se empenhado em transmitir conhecimentos baseados em evidência em diferentes áreas (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br  





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