top of page
  • Foto do escritorBlog Prof. Wellington Lunz

PERIODIZAÇÃO para o treinamento de força e hipertrofia: Qual é o melhor modelo? parte 2

Atualizado: 15 de jul.



PERIODIZAÇÃO para o treinamento de força e hipertrofia: Qual é o melhor modelo?

"Embora diversas outras formas de progressão do treinamento periodizado possam existir, dois modelos de periodização se destacam dentro da área de treinamento: a Tradicional (PT) e a Ondulatória (PO)"



Autor: Leonardo Carvalho Caldas


Na postagem anterior (Parte 1) terminamos dizendo que no final da década de 1980 surgiu um modelo de periodização que ficou conhecido como 'ondulatório' (ou periodização ondulatória), e que foi muito bem recebido pela comunidade de treinadores.

Esse modelo, proposto por Poliquin (1988), foi assim chamado por apresentar variações de volume e intensidade a cada duas semanas. De lá para cá esse modelo vem sendo adaptado, de modo que as variações passaram também a ser semanal ou diária (Baechle & Earle, 2010; Bradley-Popovich & Haff, 2001).

Embora diversas outras formas de progressão do treinamento periodizado possam existir, dois modelos de periodização se destacam dentro da área de treinamento: a Tradicional (PT) e a Ondulatória (PO).

Os dados na literatura comparando esses dois modelos de periodização são conflitantes. Alguns estudos sugerem a PO como sendo superior para ganhos de força e/ou hipertrofia (Miranda et al., 2011; Rhea et al., 2002; Simão et al., 2012), enquanto outros estudos sugerem que a PT produz melhores resultados (Apel et al., 2011; De Lima et al., 2012).

Dada a impossibilidade de interpretações conclusivas a partir dos estudos individuais, nós realizamos uma revisão sistemática com metanálise (Caldas et al., 2016) para avaliar qual o melhor modelo de periodização para ganhos de força e hipertrofia.

A partir dos critérios da revisão foi possível incluir 25 estudos, totalizando 592 participantes (400 homens e 192 mulheres) e foram extraídos 72 tamanhos de efeito (TE) para a variável desempenho de força, e 6 TE para a hipertrofia. Para a variável desempenho de força nós fizemos 4 classificações:


1) Desempenho em teste de força máxima (1RM);

2) Desempenho em teste de força isométrico;

3) Desempenho em teste de resistência muscular (teste de RMs);

4) Desempenho em testes de potência.


melhor curso de hipertrofia muscular

Além das variáveis associadas a força, também tivemos interesse em avaliar hipertrofia muscular.

O modelo de PO se mostrou superior a PT apenas para o teste de 1RM (TE = 0,22). Aos menos familiarizados, o que estamos chamando de TE é uma medida do quanto a média de um grupo (ex: grupo A; ou grupo PO) se distancia de outro grupo (ex: grupo B; ou grupo PT) em termos de variação. O Prof. Wellington Lunz produziu um vídeo para suas/seus orientandas/dos sobre esse assunto algum tempo atrás, e quem tiver interesse de entender um pouco melhor pode investir um pouco do seu tempo assistindo. Há também um artigo bem didático sobre o assunto feito por duas professoras Portuguesas (aqui). A classificação dos 'TE' não é tão simples, e por isso a leitura desse artigo ajudará bastante.

O 'TE = 0,22' que encontramos em nosso estudo, por exemplo, é algo que podemos classificar como "efeito pequeno". Trazendo isso para a linguagem da probabilidade, que é mais fácil de entender, o TE = 0,22 significaria 56%. Podemos dar o seguinte exemplo para facilitar:

Imagine que 100 pessoas treinaram com PO e outras 100 com PT. Portanto, 200 pessoas. No final do treinamento você poderia classificar essas pessoas pelo ganho de força, de modo que quem ganhou mais força seria o primeiro da lista, e quem ganhou menos força seria o 200 (ducentésimo). Dessa forma, dos 100 primeiros dessa lista você teria 'provavelmente' 56 pessoas que treinaram com PO, e 44 que treinaram com PT. É mais ou menos isso que o tamanho de efeito 0,22 quer dizer!

Ou seja, 56% não é tão maior que uma escolha aleatória. Por exemplo, se você usasse uma moeda (cara ou coroa) você teria provavelmente 50% de cada grupo.

Para todas as outras variáveis que fizemos comparações nenhum modelo de periodização se mostrou superior ao outro. Ou seja, não houve diferença nos testes de RMs, força isométrica, potência e hipertrofia.

Mas há algo importante de considerar aqui... Após ajustarmos os dados considerando algumas variáveis de confusão, identificamos um TE de magnitude maior em favor da PO. Por exemplo, quando a metanálise foi gerada apenas a partir de estudos que igualaram o volume de treinamento, a PO apresentou TE 2 vezes maior (TE = 0,47) que o grupo PT para o teste de 1RM.

Outro fator que influenciou foi o conceito de periodização. Quando excluímos da metanálise alguns estudos em que o grupo experimental não se adequava ao conceito correto de PO ou PT, observamos que a PO também foi superior a PT no teste de RMs (TE = 0,35).


melhor nutricionista país vitória es

Para as outras variáveis não houve qualquer mudança dos resultados.

Nossos resultados sugerem que a PO, por apresentar variações mais frequentes de volume e intensidade, pode ser uma alternativa interessante para ganhos de força máxima (1RM) e, talvez, também para RMs. De qualquer forma, a PO não foi pior que a PT para nenhuma das variáveis comparadas. Ou seja, a PO é igual ou melhor.

Vale destacar que não achamos nenhum estudo com medidas ricas o sufiente para compararmos PO e PT quanto a resposta hipertrófica. Sabemos que muitos treinadores e entusiastas advogam que a PO é melhor para hipertrofia, mas até o momento da escrita desse post não há evidências científicas que possam sustentar essa fala.

De qualquer forma, considerando as respostas para força, e mesmo experiências relacionadas as nossas práticas, muito provavelmente a PO não será pior para hipertrofia que a PT.

Por último, temos que considerar que os estudos incluídos no nosso trabalho tinham curta duração de treinamento (6-16 semanas). Portanto, a extrapolação desses resultados para intervenções de longo prazo (ex: anos de treinamento) caminhará numa base de incerteza.

Bom, para concluir 'voltando' a pergunta que está no título... Ainda precisamos de mais estudos para diminuirmos a incerteza sobre se há um modelo de periodização melhor, mas por ora podemos afirmar que para treinamento de força a PO é uma estratégia igual ou superior a PT.


Até o próximo post!






REFERÊNCIAS:

Todas as referências desse post estão 'linkadas' aos autores dentro do texto.

 

Leonardo Carvalho Caldas é Graduado e Mestre em Educação Física pela UFES, e atualmente é aluno de doutorado no mesmo programa de pós graduação. É Professor na faculdade Pitágoras de Linhares e técnico esportivo na prefeitura da Serra. Tem interesse em pesquisas na área do treinamento de força.


91 visualizações

Posts Relacionados

Ver tudo

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page