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Quais os Testes para Avaliação Funcional de Idosos?

Atualizado: 27 de jun.


Quais os Testes para Avaliação Funcional de Idosos?

"Os testes que serão apresentados: Five-repetition Chair Stand, Timed Up and Go, One-leg Stand, Functional Reach, Tandem Stand Test, American Alliance for Health Physical Education Recreation and Dance (AAHPERD), Escala de Equilíbrio de BERG, Performance-Oriented of Mobility Assessment (POMA), Short Physical Performance Battery, WHODAS 2.0 (World Health Disability Assessment Schedule), e mais alguns."

Já deu uma passada pelo restante do site? E no canal (YouTube)? bit.ly/3mPwRq0



Autor: Prof. Dr. Wellington Lunz


Nas últimas postagens de minha autoria no ‘Blog Prof Wellington Lunz’ tenho tratado da relação entre treinamento de força e envelhecimento. Uma postagem foi sobre um novo paradigma do envelhecimento (aqui), a outra sobre sarcopenia e dinapenia (aqui), e a última sobre os benefícios do treinamento de força para pessoas mais velhas (aqui).

Todas essas abordagens também estão no formato de vídeo no 'Canal Prof Wellington Lunz' (YouTube), onde há uma sequência de 6 vídeos sobre treinamento de força para pessoas mais velhas (aqui). Caso prefira o formato de vídeo, o convite está feito!

A postagem de hoje é um resumo AMPLIADO do que discuti no quinto vídeo, em que iniciei o conteúdo ‘Prescrição do Treinamento de Força para Pessoas mais Velhas ou Idosos’. Falarei hoje de muitos testes que avaliam diferentes componentes da vida de idosos, com ênfase nos aspectos funcionais, o que obviamente inclui o aspecto físico. Então vamos lá!

No vídeo 5 destaquei que a prescrição de treinamento de força para idosos passa por três coisas fundamentais e específicas: Anamnese, avaliação física/funcional e tomada de decisão (prescrição propriamente dita). Mas para diminuir o tamanho da postagem de hoje, vou me concentrar apenas na ‘avaliação física ou funcional’, e deixarei para falar da anamnese e tomada de decisão no próximo post. A mudança de ordem aqui não muda a ordem na prática, que precisa iniciar com anamnese.

Em relação a avaliação física, os componentes mais importantes são equilíbrio, força, resistência e funcionalidade (a funcionalidade é o mais importante, mas ela é dependente dos itens que a antecedem). Há muitos testes validados para se avaliar esses componentes e, também, é possível criar outros específicos para testar a funcionalidade da pessoa idosa dentro da sua rotina ou contexto familiar e comunitário.


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Por exemplo, pode-se avaliar a capacidade da pessoa idosa sentar-se e levantar-se de uma cadeira, sofá e cama. Avaliar se consegue deitar no chão sem ajuda, e depois levantar-se sem ajuda. Avaliar o padrão da marcha (uma marcha ‘arrastada’ é perigosa, pois aumenta o risco de tropeçar e cair). Avaliar se tem força para carregar objetos domiciliares, se consegue alcançar objetos acima do nível da cabeça, ou calçar um sapato, amarrar o cadarço. Avaliar se consegue agarrar uma bola lançada de diferentes distâncias.

Testar a propriocepção pedindo para a pessoa flexionar o quadril (com joelho também flexionado), retirando uma das pernas do chão. Esse teste é basicamente o One Leg Stand, que citarei daqui a pouco, e que as vezes encontramos em alguns trabalhos científicos sendo chamado de 'sinal ou teste de Trendelenburg adaptado'. E pode-se ainda aumentar o desafio pedindo para a pessoa fazer isso com olhos fechados... Mas tenha cuidado! Considere o nível de fragilidade da pessoa. Recentemente fizemos essa adaptação num trabalho científico (ainda não publicado), com olhos abertos e fechados, e percebemos que é pouco desafiador para jovens treinados/as, mas para adultos não treinados já foi encontrado associação de piores resultados nesse teste com menor idade biológica.

Como temos por experiência de vida e profissional uma noção intuitiva de qual deve ser o desempenho nessas tarefas que citei, incluindo os aspectos cinemáticos, tais iniciativas já irão ajudar bastante a tomar decisão.

Mas há também testes validados. A principal importância desses testes é permitir a comparação com valores de referência (quando houver) ou com os valores apresentados por um ou mais artigos científicos que tenham usado amostra similar a pessoa idosa que você esteja avaliando. Dentre os muitos testes, vou iniciar por aqueles que destaquei no quinto vídeo: Five-repetition Chair Stand, Timed Up and Go, One-leg Stand, Functional Reach e o Tandem Stand Test.

Antecipando, aproveito para dar um exemplo mais concreto de comparação: Se a pessoa que estiver sendo avaliada for uma mulher entre 60 e 79 anos, você pode comparar os resultados obtidos nesses 5 testes acima com aqueles apresentados no artigo de Hauser et al (2020), que utilizaram amostra de 190 mulheres nessa faixa etária. Ou seja, com isso é possível ter uma dimensão do valor esperado para a pessoa que está sendo avaliada.

Esses testes que citei acima (e outros que citarei mais adiante) são habitualmente de simples condução. Esses 5 testes estão explicados no artigo de Hauser et al (2020), mas também são facilmente encontrados na internet. Mas, caso opte por buscar na internet, tenha bastante cuidado com a fonte! Busque uma fonte confiável. De qualquer forma, eu também irei descrever agora como eles devem ser aplicados:

( 1 ) Five-repetition chair stand (Levantar e sentar 5 vezes da cadeira) - Esse é um dos testes mais conhecidos. A partir da posição sentada em uma cadeira sem braços e com encosto reto (por segurança, a cadeira deve estar encostada numa parede), a pessoa deverá fazer cinco repetições de levantar e sentar na cadeira. Os braços da pessoa estarão cruzados a frente do corpo, de modo que não possa usar os braços para auxiliar no movimento. Deve-se solicitar que a pessoa faça o teste o mais rápido possível. O resultado será o tempo total. E, claro, quanto menor esse tempo, melhor!

( 2 ) Timed Up and Go (Tarefa cronometrada): A partir da posição sentada em uma cadeira, dê um comando para a pessoa levantar e caminhar um trajeto de 3 metros, virar, voltar e sentar-se novamente. A pessoa deve realizar o teste uma vez para se familiarizar, e depois realizar mais duas tentativas. O resultado será o tempo médio das duas últimas tentativas. Deve-se também estar atento as características cinemáticas (ex: padrão da execução) de modo que consiga avaliar a autonomia dessa tarefa. OBS: A pessoa não pode correr, e quanto menor for o tempo, melhor!

É interessante destacar que resultados piores nesse teste associam-se com maior risco de queda. Em um estudo realizado por Alexandre et al (2012) com pessoas acima de 60 anos de idade, o melhor ponto de corte para prever quedas foi no tempo de 12.47 segundos (sensibilidade = 74% e especificidade = 66%). Há outras indicações de ponto de corte para idosos acima de 65 anos, como: <20 segundos = pequeno risco de quedas; 20-30 segundos = risco moderado de quedas; ≥ 30 segundos = alto risco de queda (veja em Costa et al., 2011).

Como quedas são muito debilitantes e aumenta o risco de morte de idosos, enquanto que as intervenções preventivas são relativamente simples, me parece mais sensato usar o ponto de corte menor (ex: 12.47 s proposto por Alexandre e Cols), e assim já iniciar intervenções (ex: treinamento físico, reestruturação do espaço doméstico) que possam diminuir a chance de quedas.

( 3 ) One Leg Stand (Em pé em uma única perna): Pede-se para a pessoa levantar uma perna (flexão do quadril, com joelho também flexionado) e assim permanecer por 30 segundos ou até perder o equilíbrio e colocar o pé no chão. São realizadas três tentativas e o resultado será o tempo máximo que a pessoa conseguir manter-se equilibrada sobre uma perna. Nesse caso, quanto maior o tempo, melhor!

( 4 ) Tandem stand test (teste de equilíbrio em linha): Esse é até difícil traduzir, porque ‘tandem’ é um tipo de bicicleta com dois ou mais assentos alinhados; ou também uma espécie de veículo puxado por dois cavalos ‘em linha’. A ideia tem a ver com ‘linha’ ou ‘alinhado’. Nesse teste a pessoa deverá colocar um pé exatamente na frente do outro, onde o calcanhar de um pé é posicionado na frente do outro pé, de forma que o calcanhar toque os dedos do segundo pé.

O examinador ajuda a pessoa a conseguir assumir a posição. O teste começa quando o examinador permite que a pessoa mantenha essa posição sozinha. O tempo será encerrado se a pessoa movimentar o pé (perder a posição), ou se precisar apoiar-se no examinador, ou se cumprir o tempo máximo do teste, que é de 10 segundos. O resultado será o tempo, e obviamente quanto maior esse tempo melhor será! Detalhe: Pode-se permitir até 3 tentativas, e usar o tempo médio como resultado.

( 5 ) Functional reach (teste de alcançar): A pessoa é posicionada ao lado de uma parede, sem tocá-la. Os pés paralelos, ombros fletidos a 90º e cotovelos estendidos. A posição inicial deverá ser marcada na parede. Pede-se então que a pessoa incline o tronco para frente, mantendo o braço estendido, sem retirar o calcanhar do chão e sem perder o equilíbrio. A distância entre a primeira e a segunda marca será o resultado. Três tentativas são permitidas, e deve-se considerar a média das três medições. Embora a descrição possa parecer difícil, mas é bem simples.

Busque na internet por vídeos que possam te auxiliar, caso tenha dúvida. Aliás, mantive os termos em inglês para todos os testes exatamente para que você possa ter mais facilidade de encontrar na internet. Nesse teste o alcance de maiores distâncias significará melhor resultado.

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Há muitos outros testes na literatura construídos para avaliar diferentes aspectos (ex: risco de quedas, funcionalidade, incapacidade, sociabilidade, etc.). Dentre esses muitos, vou destacar os mais habituais.

Um deles é a bateria de testes da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD). Essa bateria avalia a aptidão funcional de idosos por meio de cinco testes físicos. É um teste que também tem valores normativos para amostra brasileira (Benedetti et al., 2013).

Outro é a Escala de Equilíbrio de BERG. Aliás, é um dos testes mais usados no ambiente clínico/hospitalar. Embora não esteja livre de críticas, há pontos de cortes para risco de quedas.

Outro teste usado com o objetivo de antever quedas é o Performance-Oriented of Mobility Assessment (POMA), que também é conhecido por Escala de Tinetti. Além de tarefas de equilíbrio, esse teste avalia a cinemática da marcha (altura, comprimento e simetria dos passos), o que é algo bastante interessante.

Há ainda o Short Physical Performance Battery, que avalia equilíbrio, velocidade da marcha e força de membros inferiores (para força usam exatamente o teste de levantar-sentar da cadeira, que já citei antes; Five-repetition chair stand). Há ainda o Teste do Desempenho Físico Modificado e a Subescala de Equilíbrio de Fugl-Meyer.

Um artigo que discute esses últimos testes que acabei de mencionar (da Escala de BERG até aqui) é o de Costa et al. (2011). Esse artigo é interessante para quem quiser uma introdução no assunto.

Para finalizar, vale destacar outro instrumento: O WHODAS 2.0 (World Health Disability Assessment Schedule). É um instrumento proposto pela Organização Mundial de Saúde para ‘avaliação da incapacidade em atividades e participação’.

Até 2019 o WHODAS 2.0 já havia sido traduzido para 47 línguas e dialetos. A ferramenta é apresentada em três versões: uma com 36 itens, uma resumida contendo 12 itens e uma combinada (12+24 itens) (Ferrer et al., 2019).

Algumas coisas bastante positivas do WHODAS 2.0 são:

1) É um questionário de perguntas e respostas. Ou seja, muito fácil de aplicar, podendo ser aplicado em qualquer ambiente;

2) Analisa diferentes dimensões de atividades e participação social e quanto estas influenciam o bem-estar e a funcionalidade de idosos;

3) Em 2019 foi publicado valores normativos com amostra brasileira, o que facilita a comparação e amplia a aplicabilidade do instrumento (Ferrer et al., 2019);

4) Há associação entre os piores os escores no WHODAS com piores escores no teste Timed up and go (Ferrer et al., 2019). Isso sugere que o WHODAS também possa prever quedas.

Por último, nada impede de você associar esse questionário com outros testes, como o próprio Timed up and go. Isso poderia te dar mais informações sobre as incapacidades e capacidades de idosos.

Agora sim, para concluir... Há vários outros testes possíveis. Alguns mais desafiadores, como o caso do FMS (functional movement screen) e o Y-balance. Não são testes específicos para idosos, mas que eu recomendaria para pessoas menos fragilizadas, nas quais você deseje fazer um acompanhamento da competência motora ao longo dos anos. O FMS envolve 7 movimentos, mas nada impede de usar apenas alguns desses movimentos. O Y-balance é mais simples, e também bastante usado em muitos públicos.

Enfim, tudo isso é facilmente encontrado em trabalhos científicos, mas se você tiver dificuldade pode fazer contato comigo via ‘Contato’ do site, ou email (welunz@gmail.com) ou Instagram (@prof.wellingtonlunz). Também faça contato para compartilhar algum outro teste interessante que eventualmente você conheça. E na próxima postagem complementarei o assunto com 'anamnese e prescrição do treinamento de força' para pessoas mais velhas.


Até o próximo post!


Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.








 
Prof Wellington Lunz UFES hipertrofia treinamento de força

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 


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