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"Perder 16% de gordura em 8 semanas, sem restrição calórica!?" NÃO ACREDITO NESSE RESULTADO.

Atualizado: 20 de fev.



"(...) Muito né!? Mas você ainda não viu nada... conseguiram isso SEM DIMINUIR ingestão calórica. O que os autores fizeram foi apenas concentrar a ingestão de 3000 kcal em 8h, e o restante do tempo os participantes ficavam em jejum (16h de jejum). INACREDITÁVEL, né!? Mas não acabou..."


Prof. Dr. Wellington Lunz


Eu vi num desses perfis (Instagram) que opta por resultados ‘SENSACIONAIS’ para atrair seguidores, um artigo (esse > Moro et al., 2016) que mostrou o seguinte:


>> 16,4% de redução de gordura corporal em 8 semanas!


Muito né!? Mas você ainda não viu nada... conseguiram isso SEM DIMINUIR ingestão calórica. O que os autores fizeram foi apenas concentrar a ingestão de 3000 kcal em 8h, e o restante do tempo os participantes ficavam em jejum (16h de jejum). INACREDITÁVEL, né!?

Mas não acabou! O ceticismo aumenta ainda mais quando dizem que eram participantes que faziam treinamento de força com um já baixo percentual de gordura (~11%). E essas pessoas continuaram treinando (musculação) durante o estudo.

E para reforçar a aparência de IMPOSSÍVEL, isso aconteceu no grupo jejum de 16h, mas não no grupo jejum de 12h (grupo controle, cuja ingestão e treinamento eram os mesmos). O que explicaria um negócio desses? Quem (ou o quê) acedeu a fornalha orgânica para transformar tudo isso em calor (pois a energia não foi transferida para ATP)?

Fiquei, claro, pasmo e curioso para ler o estudo. Mas quando vi entre os co-autores um ‘autointitulado super pesquisador’ com 8 ou 9 artigos sob investigação de fraude, e com alguns já retratados (retirados de revistas), quase desisti da leitura. Mas, como não era ele o aparente orientador do trabalho, respirei fundo e lí assim mesmo.

Vamos entender: Os autores fizeram o chamado ‘time-restricted feeding’, que significa concentrar todas as calorias numa janela curta de tempo, e depois os participantes ficavam em jejum pelo resto do dia. Um grupo consumia 3000 Kcal entre '13h e 20h' (com 16h de jejum), e o outro grupo 3000 Kcal durante 12h do dia (e 12h de jejum). Os macronutrientes foram similares entre os grupos.

E nessas 8 semanas de estudo, ambos os grupos fizeram o mesmo treinamento de força. Há também vários resultados metabólicos “SENSACIONAIS”, mas esse resultado da redução de GORDURA é demais pra mim!



O resultado é INACREDITÁVEL porque nem mesmo estudos com ingestão calórica tão baixa quanto 500 kcal abaixo da taxa metabólica de repouso, durante 6 MESES, tem conseguido esse percentual de redução. E, detalhe, em pessoas obesas, cuja perda de gordura é mais fácil (recomendo essa leitura > Campos-Nonato et al., 2017).

O artigo não tem problemas de ‘descrição metodológica’. Diante desse cenário, ou seja, resultado atípico, mas com boa descrição metodológica, o ideal é ver se alguém conseguiu reproduzir o estudo. E aí vejam que intrigante:

O mesmo último co-autor desse estudo (A. Paoli), e lembrando que o último co-autor geralmente caracteriza o mentor/orientador do trabalho, participou de outros dois artigos posteriores com delineamentos similares, mas agora como colaborador (ou seja, alguém que não é nem o primeiro e nem o último autor).

E, curiosamente, passaram longe de encontrar esse mesmo resultado. Em um dos artigos (Tinsley et al., 2017), com time-restricted feeding de 4h e também com 8 semanas de duração, não houve diminuição de gordura significativa. E, detalhe, esse grupo teve ingestão ~ 650 kcal menor que do grupo com ingestão padrão. O outro estudo, um delineamento similar, mas com amostra feminina, teve apenas 2% ou 3% de redução de gordura (Tinsley et al., 2019).

O que explicaria esses 16% de redução de gordura em apenas 8 semanas, em pessoas com já baixa quantidade de gordura?

Minhas hipóteses são:

(1) Os participantes mentiram. Ou seja, comeram muito menos do que relataram aos pesquisadores; ou...

(2) Um (ou mais) dos colaboradores do artigo mentiu (não dá para acusar todo mundo, embora é um resultado muito atípico... deveria chamar atenção de todos os colaboradores).

Algo que poderia explicar em parte é que o grupo de 16h jejum teve ingestão média de ~175 kcal menor que do grupo 12h, embora não tenha havido diferença estatística. Em 8 semanas isso daria aproximadamente 10.500 kcal de diferença. E, caso a perda fosse exclusivamente de gordura, isso daria um pouco mais de 1 kg de perda de massa gorda. Mesmo assim, esse valor é 38% menor que a média de redução de massa gorda citada no estudo. Ou seja, mesmo com o Universo conspirando a favor, não explicaria tudo. E lembremos que perda de massa gorda não se encaixa em um modelo tão simplista assim.



Os autores também não apresentaram os resultados individuais dos participantes, o que nos impede de avaliar se todos os participantes do grupo 16h de jejum tiveram comportamento igual. Ou seja, todos perderam 16% de gordura? Na verdade, esse meu questionamento é retórico, porque olhando para a variação eu já sei que teve gente que ganhou massa gorda e gente que perdeu. Não mostrar os resultados individuais tem sido uma estratégia comum para não revelar coisas relevantes ao leitor menos habituado ao mundo científico.

Em resumo, veja o que esse artigo nos ensina:


(1) Boa ou perfeita descrição metodológica não significa trabalho bem conduzido, pois há sempre a possibilidade de erros humanos intencionais ou não (e erros não humanos também).


(2) Desconfie de resultados atípicos e com 'lógica fraturada'. Nesse caso, espere um tempo para ver se o resultado será reproduzido. E, importante, o ideal não é esperar resultados do mesmo grupo de pesquisa, mas sim de grupos de pesquisas independentes. Aqui eu só citei do mesmo autor, porque os resultados contradizem resultados anteriores do próprio autor. Normalmente não é o que acontece! E também não achei protocolo similar feito por grupos de pesquisa independentes. Mas aposto que ninguém conseguirá reproduzir tal resultado.

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Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 


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