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Erros no agachamento: Os 10 erros principais.

Atualizado: 8 de nov. de 2024



"...eu interpreto que esse artigo é ótimo para você compreender o Agachamento do ponto de vista técnico. O artigo oferece boa sustentação científica no que se refere a um Agachamento bem- ou malfeito"

Prof. Dr. Wellington Lunz - Universidade Federal do Espírito Santo 


Autores/pesquisadores bem conhecidos na área do treinamento físico publicaram um artigo propondo usar o Agachamento Costa (agachamento tradicional) como ferramenta de avaliação da competência motora. Chamaram o teste de Back Squat Assessment (BSA).

Esse artigo está dentro de uma pasta chamada ‘Certification’ do site do National Strength and Conditioning Association (NSCA). Isso sugere que o NSCA usa esse documento como parte da Certificação de profissionais que buscam seus cursos.

Na verdade, foram duas publicações: Uma no final de 2014 (Myer et al., 2014) e outra no início de 2015 (Kushner et al., 2015).

Mas, nesse momento, me interessa a publicação de 2014, pois a de 2015 é uma proposta de exercícios corretivos sem fundamentação científica suficiente. Eu li, mas não recomendo usar livremente. Nenhum autor/pesquisador tem a prerrogativa de produzir sugestões sem evidência científica razoável, nem mesmo os bem conhecidos (aliás, é até pior, pois autores ‘renomados’ geram mais confiança nas pessoas).

É muito provável que esses artigos foram no sentido de criar um teste que pudesse concorrer com o FMS (Functional Movement Screen), que, na época, estava mais na moda que agora. E, obviamente, estava atraindo potenciais clientes do NSCA.

Os proprietários do FMS ainda ganham muito dinheiro mundo afora, mas naquele momento estava no auge. Em outro momento posso falar do FMS também.

Mas essa história de ‘teste para concorrer’ com FMS é uma suposição pessoal, já que não conheço os bastidores. Mas, além das coisas que já comentei, minha suposição também é baseada em outras coisas:

(1) Não me parece fazer muito sentido usar um único movimento para avaliar a competência motora de alguém. Fazemos movimentos em diferentes planos e eixos, e meu ceticismo é muito elevado sobre essa possibilidade. E foi por isso que eu li os artigos com bastante atenção, pois queria conhecer as evidências que pudessem sustentar;

(2) Não me lembro de artigos anteriores que eu tenha visto tantas vezes o verbo modal ‘May’ (do Inglês), o qual é comumente usado para expressar ‘possibilidade’. Há outras funções, mas no artigo usaram no sentido de ‘possibilidade’.

Para vocês terem uma ideia, quando se coloca a palavra ‘May’ no Search (localizar) do PDF do artigo, a palavra aparece 74 vezes. Os autores passaram o artigo inteiro dizendo que o ‘Agachamento’ ‘pode’, ‘poderia’, ‘talvez’... Não há nenhuma evidência direta associando o Agachamento com competência motora geral.

Creio que nesse momento você NÃO deve estar entendendo por que estou trazendo esse artigo para falar dos ‘10 principais erros do agachamento’ (e calma que ainda irei falar quais são...). Vou explicar a razão:



Mas antes, para ratificar, eu não recomendo o uso do BSA para avaliar ‘competência motora’, pois não há evidência razoável disso. Aliás, estamos em 2021, e nesse meio tempo não há nenhum artigo que investigou se o BSA é realmente uma boa estratégia para avaliar competência motora. Nem mesmo os proponentes desenharam um trabalho para isso. Recentemente fizemos uma pesquisa sobre ‘competência motora’, incluindo o BSA, e devemos escrever um artigo em breve sobre isso.

POR OUTRO LADO, e é agora que as coisas farão mais sentido para você, eu interpreto que esse artigo é ótimo para você compreender o Agachamento do ponto de vista técnico. O artigo oferece boa sustentação científica no que se refere a um Agachamento bem- ou malfeito.

Embora eu senti falta da citação de alguns artigos importantes, e ainda mantenho algumas críticas, de modo geral é um ótimo documento para você justificar a condução técnica do Agachamento. Ou seja, você pode conduzir e avaliar o Agachamento de um praticante (ou o seu próprio...) usando o BSA.

E uma coisa muito interessante é que eles fizeram uma ficha de julgamento do Agachamento que é bastante pedagógica, intuitiva e ilustrada (o que ajuda bastante), e te permite uma análise mais simples (critério a critério) de algo relativamente complexo.

Essa ficha está na imagem abaixo... Mas como não sei se a resolução ficará boa, logo abaixo eu coloco essa mesma ficha em partes, o que deve melhorar a visualização.


Essa ficha, que pode ser impressa numa folha A4, te permite julgar 3 domínios (região superior, região inferior e mecânica do movimento), os quais foram subdivididos em 10 critérios, da seguinte forma:


>> Domínio da Região Superior:

Você julgará 3 critérios: Posição da cabeça, do tórax e do tronco.


>> Domínio da Região Inferior:

Você julgará 4 critérios: Posição do quadril, do joelho (plano frontal), do pé e progressão da tíbia.


>> Domínio da Mecânica do Movimento:

Você julgará 3 critérios: Fase descendente, fase ascendente e profundidade.



Para cada critério você deve registrar se o Agachamento foi feito de forma incorreta (eles chamam de deficit). Quando o movimento não é feito conforme as recomendações do documento, você dá '1 ponto'. Ou seja, a pior nota possível será 10, e a melhor será 0 (zero).

Como prometido, vou colocar abaixo a ficha fragmentada para facilitar a compreensão. E eu fiz tanto uma tradução livre quanto uma adaptação, pois no documento original eles fazem a descrição do movimento CORRETO... Eu optei por descrever o INCORRETO, pois a nota é dada para o movimento INCORRETO.

Então vamos aos ‘10 principais erros do agachamento’, para honrar o título da postagem. Irei começar com o Domínio da Região Superior (Posição da cabeça, do tórax e do tronco) (Figura abaixo).


Repetindo o que está descrito na imagem:

(1) Posição da cabeça: ERRADO se a linha do pescoço NÃO se mantiver perpendicular ao solo, e a direção do olhar NÃO se mantiver paralela ao solo.

(2) Posição do tórax: ERRADO se o tórax NÃO se mantiver elevado, e escápulas NÃO se mantiverem retraídas.

(3) Posição do tronco: ERRADO se o tronco NÃO estiver paralelo à tíbia, e lombar NÃO mantiver lordose fisiológica.


Agora vamos ao Domínio da Região Inferior [Posição do quadril, do joelho (plano frontal), do pé e progressão da tíbia] (Figura abaixo).


(4) Posição do quadril: ERRADO se a linha do quadril NÃO se mantiver paralela ao solo, no plano frontal.

(5) Posição frontal dos joelhos: ERRADO se a região lateral do joelho cruzar o maléolo medial.

(6) Progressão tibial: ERRADO se o joelho passar EXCESSIVAMENTE a ponta do pé. (*Grifo meu: embora não falam exatamente o que é ‘excesso’, mas claramente abandonam aquela antiga história de que joelho não pode passar a ponta do pé. Há situações que seria imprudência não permitir passar).

(7) Posição dos pés: ERRADO se o pé perder contato com o solo.



Por último, o Domínio da Mecânica do Movimento: Você irá julgar 3 critérios: Fase descendente, fase ascendente e profundidade (Figura abaixo).


(8) Fase Descendente: ERRADO se o avaliado NÃO usar a estratégia da tripla flexão-extensão corretamente. Ou seja, as articulações devem ‘flexionar-extender’ ao mesmo tempo.

(9) Profundidade: ERRADO se no final do agachamento as coxas NÃO estiverem PELO MENOS paralelas ao solo. (*Grifo meu: repare que não há problema em fazer o agachamento profundo... A propósito, eu tenho uma aula no Canal Prof Wellington Lunz sobre Agachamento, e lá falo desse documento, dessa ficha e outros artigos importantes... Talvez lá fique mais claro... O vídeo é esse aqui).

(10) Fase Ascendente: Idem à mecânica da fase descendente, mas no sentido oposto. Estará ERRADO se a cadência não mantiver uma relação 2:1 para as fases Descendente:Ascendente.

(*Grifo meu: Não há evidência nenhuma que justifique apenas essa cadência. A meu ver, os autores erram ao estabelecer essa cadência como a única correta).


Para finalizar, faço algumas considerações sobre a execução:


>> No documento há algumas normativas: O tamanho do bastão é de 36 x 1,25 polegadas (mas permitem fazer sem bastão também, colocando as mãos na altura das orelhas). Se você usar um bastão, a pegada deve ser ligeiramente mais distante que os ombros (*Grifo meu: particularmente não vejo problema de se usar uma barra de aço, típica de academia).


>> O bastão deve repousar logo abaixo da C7 (sobre trapézios), com antebraços paralelos ao tronco, e punhos alinhados durante todo o movimento.


>> Pés apontados para frente, com rotação tibial externa de até 10º. A tíbia deve estar alinhada com ombros. Durante a execução não se deve permitir rotações interna e externa maiores que 30º e 80º, respectivamente.

OBS: Perceba que o teste tolera grandes rotações, pois os autores entendem que as pessoas variam muito em relação a posição de conforto para realizar o movimento...E eu concordo!!! Mudar uma posição de conforto pode falsamente sugerir que a pessoa faz o Agachamento com competência insuficiente.


>> O documento recomenda o seguinte script verbal (ou seja, dizeres antes da execução):


Por gentileza, fique de pé, com os pés e ombros alinhados. Faça o agachamento até que a parte superior de suas coxas fique no mínimo paralela ao solo, e depois retorne à posição inicial. Realize 10 repetições seguidas em ritmo moderado ou até que seja pedido para parar


Eles não comentam, mas penso que se você for uma pessoa que consegue fazer um bom agachamento, seria interessante demonstrar para o/a avaliado/a como é um agachamento bem feito. Penso que uma pessoa que nunca fez um agachamento com barra precisa de algum referencial daquilo que se espera. Outras duas ponderações finais:


(1) Os autores pedem para julgar se o deficit (ou falha na execução) seria explicado por: questões ‘neuromusculares’, ou ‘força/estabilidade’ ou ‘mobilidade’. Entretanto, eles não oferecem nenhum parâmetro razoável que permita definir quando o problema é causado por uma ou outra variável. Ou seja, não recomendo que tente isso, pois seria ‘chutômetro’.

(2) Nas figuras (fotos) eles mostram erros bastante claros, e fáceis de identificar. O problema é quando o erro fica na margem da dúvida. Ou seja, aquela pequena alteração que te deixa na dúvida se está errado ou não. Para isso não vi solução lá (não falam nada). Penso que você terá que fazer uma consideração pessoal do quanto tolerar.

Apesar das críticas que eu faço aqui, entendo que o documento é muito interessante pelo caráter pedagógico, pois, ao segmentar o movimento, ele te ensina verdadeiramente a ‘analisá-lo’. E isso diminui a complexidade do julgamento. E como o avaliado pode fazer 10 movimentos, você pode julgar um único critério a cada movimento.

Deixo meu e-mail (welunz@gmail.com) e Instagram: @prof.wellingtonlunz. Aliás, há uma postagem sobre isso no instagram também, e as imagens lá ficarão muito boas.


Até a próxima postagem!


Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.






 

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 

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