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EMAGRECER comendo mais: Como?

Atualizado: 27 de jun.



"O resultado mais intrigante foi que o grupo que ingeriu mais calorias foi o único que conseguiu perder massa gorda."


Prof. Dr. Wellington Lunz


‘Como emagrecer comendo mais?’ Ou ‘Como comer muito e emagrecer?’ Quem nunca fez perguntas como essas que atire a primeira pedra! rs.

Pois é, vou apresentar para vocês um artigo (esse > Antonio et al., 2015) que alegrará as pessoas que fazem essa pergunta.

Vou falar primeiro sobre 'como' e 'o que' os autores fizeram e 'principais resultados'. No final, para quem quiser entender mais profundamente, deixarei os pontos fortes e limitações que eu vejo no trabalho. Vamos lá!

O objetivo do estudo foi investigar se uma dieta rica em proteínas associada a um programa periodizado de treinamento de força (TF) por 8 semanas afetaria parâmetros relacionados a composição corporal, desempenho e saúde.

Os participantes eram homens e mulheres jovens com experiência em TF. Foram divididos em 2 grupos:


>> Proteína Normal (NP) (n = 17, sendo 4 mulheres)

>> Proteína Elevada (HP) (n = 31, sendo 7 mulheres).


O grupo HP foi orientado a consumir >3 g/kg/dia de proteína, e o grupo NP orientado a manter o consumo proteico, que era ~2 g/kg/dia. E houve um treinamento periodizado igual para ambos os grupos.

Ao final do experimento, o grupo HP havia consumido > 3,4 g/kg/dia de proteínas (que é algo bem acima do máximo recomendado), e o grupo NP consumiu média de 2,3 g/kg/dia (que também não é pouca proteína... é bem mais que o dobro do mínimo sugerido, que fica em torno de 0,8 g/kg/dia).



O resultado mais intrigante foi que o grupo que ingeriu mais calorias foi o único que conseguiu perder massa gorda. Veja:

O grupo HP ingeriu ~ 495 kcal a mais que o grupo NP. Em termos absolutos ficou mais ou menos assim:


>> HP = 2614 Kcal

>> NP = 2119 Kcal


Apesar desse consumo excedente de calorias do grupo HP, esse grupo perdeu ~1,7 kg de gordura, enquanto o grupo NP perdeu não significantes ~ 0,3 kg.

Os grupos consumiram a mesma quantidade média de gordura e carboidrato. Portanto, a única coisa excedente foi 'proteína' para o grupo HP.

Embora o grupo HP teve maior perda de gordura, o ganho de massa livre de gordura (MLG) foi similar entre os dois grupos (~ 1,5 kg de ganho de MLG). Isso fortalece o conhecimento dominante que estabelece não haver necessidade de passar de 2 g/kg/dia de proteína para aumentar massa muscular.

Mas os autores estão falando de média! O detalhe é que a variabilidade foi maior do que a média, e isso significa que houve gente que também andou perdendo MLG.

De fato, quando a gente olha as figuras com resultados individuais, a gente percebe que ~ 10% da amostra do grupo NP perdeu MLG, e 17% da amostra do grupo HP perdeu MLG. Ou seja, embora MLG não é só músculo, isso é sugestivo de que nem todo mundo ganhou massa muscular.

E, também, teve bastante gente do grupo NP que perdeu massa gorda. Em torno de 50% da amostra do grupo NP perdeu massa gorda. Mas realmente esse percentual foi maior para o grupo HP, pois ~70% da amostra perdeu massa gorda.

Ou seja, há quem se beneficie ou não de ambas as estratégias. Aliás aqui fica uma lição importante na interpretação de resultados científicos:

‘A média pode te enganar! Bom mesmo é poder olhar os resultados individuais. Isso seria insano em estudos envolvendo milhares de pessoas, mas é bem tranquilo para estudos com uma ou poucas dezenas de pessoas, como no caso desse estudo’.

Mas porque o grupo HP e com maior ingestão calórica teve maior perda de gordura?

Os autores discutem que isso poderia estar associado ao maior efeito termogênico das proteínas. Mas, particularmente, não me parece uma explicação razoável.

Isso até faria sentido se o aumento proteico fosse acompanhado por redução de outro macronutriente (gordura ou carboidrato). Mas não foi o caso aqui. O que ocorreu aqui foi que o grupo HP consumiu um excedente de proteínas de mais de 400 kcal, enquanto os demais macros se mantiveram igualados nos dois grupos.

Portanto, para a explicação dos autores fazer sentido, teríamos que acreditar numa capacidade de cada caloria excedente de proteína gerar um gasto maior que a própria ingestão dessa caloria.

Ou seja, 400 kcal a mais de proteínas teria que gerar mais de 400 kcal de gasto energético. E eu desconheço evidências que o excesso proteico possa fazer isso.

Particularmente acho que a explicação seria outra. Uma possibilidade seria a seguinte: O grupo NP estava com uma ingestão bem próxima do mínimo para suprir as necessidades fisiológicas. Se considerarmos o efeito térmico do alimento somado ao treinamento físico, possivelmente estava faltando energia. Isso poderia, em tese, induzir reajustes hipotalâmicos para conservar o máximo possível os estoques de energia. É uma hipótese que faz mais sentido para mim.

No meu Feed do Instagram há uma postagem onde mostro um estudo em que atletas do CrossFit que faziam restrição calórica tinham maior percentual de gordura que atletas que não faziam restrição calórica. Isso é sugestivo de que na restrição calórica pode haver reajustes para impedir perdas de reservas energéticas.

Agora, se você quer se aprofundar mais em interpretação metodológica crítica de trabalhos científicos, continue a leitura, pois falarei dos pontos FORTES (ou positivos) e LIMITAÇÕES.


PONTOS POSITIVOS:


1) Tamanho amostral maior que o habitual;

2) Pessoas com experiência em treinamento de força;

3) Boa técnica para medir gordura (pletismografia BodPod);

4) Resultados individuais foram apresentados (autores foram transparentes... Isso é bem importante, pois há autores que usam apenas a média para propositalmente ocultar coisas).

5) Mediram creatinina e taxa de filtração glomerular como biomarcadores de que o resultado não foi influenciado por estresse muscular e renal (e o resultado foi similar entre os grupos).


LIMITAÇÕES:


1) A ingestão diária foi registrada usando um aplicativo não validado para trabalhos científicos (Apk MyFitnessPal). Trata-se de um apk popular, de contribuição coletiva. O uso de um apk desses por um trabalho científico exige, minimamente, que seja previamente testada sua validade (ex: precisão e reprodutibilidade), para averiguar se poderia ser usado ou não. Essa é uma limitação muito grave, e poderia explicar as diferenças calóricas entre os grupos;

2) Perderam 34% da amostra, e a maioria sequer explicou porque saiu do estudo. Como a amostra era relativamente boa, o maior problema nem é essa perda, mas o fato de sugerir que houve um certo distanciamento entre pesquisador e participante (não é legal);

3) Resultados muito heterogêneos. As pessoas respondem bem ou mal a ambas as estratégias. Isso sempre nos obriga a pelo menos duas perguntas: Será que se a amostra fosse muito maior, esse resultado apareceria? Será que se o estudo for repetido, esse resultado será o mesmo? (ou seja, pode ter sido casual).

4) O treinamento não foi supervisionado. Outro problema grave que poderia explicar as diferenças de perda de massa gorda.

5) Duração de apenas de 8 semanas: O que acontece depois disso?

6) Como já disse, a média pode enganar. O ideal é olharmos os resultados individuais. E, sobre isso, faltou mostrar quantas pessoas efetivamente de cada grupo tiveram o resultado mais desejado, que é ‘perder gordura e ganhar massa muscular ao mesmo tempo’ (o que tem sido chamado de 'recomposição corporal'). A média não permite enxergar isso.

7) O grupo HP tinha mais experiência em treinamento de força (~4,9 anos) que o grupo NP (2,4  anos). Os autores disseram que ‘randomizaram’ os participantes, mas essa diferença não fortalece essa afirmativa.

Seja como for, é um resultado intrigante, mas que precisa ser repetido por outros grupos de pesquisa para vermos se isso se confirma. Por ora, não dá para bater o martelo. Há problemas metodológicos que aumentam bastante o grau de incerteza desse resultado. Ou seja, seria um argumento frágil usar esse artigo para dizer que ‘podemos comer calorias a vontade, desde que venha de proteínas’.

E se quiser acompanhar outras produções, siga também o instagram @prof.wellingtonlunz e meu canal no YouTube (Canal Prof Wellington Lunz).


Até a próxima postagem!


Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.






 

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 


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