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CAMINHE para não MORRER precocemente

Foto do escritor: Blog Prof. Wellington LunzBlog Prof. Wellington Lunz

Atualizado: 8 de nov. de 2024


CAMINHar para não MORRER precocemente

Prof. Dr. Wellington Lunz - Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Trata-se de um estudo que envolveu uma amostra de 78.500 pessoas para relacionar CAMINHADA e MORTALIDADE. Li o artigo porque é o típico estudo que oferece resultados com alto GRAU de RECOMENDAÇÃO.

Entretanto, uma reclamação que tenho é sobre a triste mania que cientistas têm de apresentarem numa linguagem impossível do/da profissional sem aproximação científica entender.

Como o/a profissional que está na ponta, fazendo intervenções sociais, irá usar tais conhecimentos, se ele ou ela não conseguirem entender? Precisamos urgente reconhecer as seguintes necessidades:

(A) cientistas produzindo conhecimento;

(B) profissionais aplicando; e, num nível ainda nada reconhecido: De cientistas que fazem a PONTE entre A e B.

E essa ponte precisa ser feita por cientistas, pois jornalistas habitualmente não conseguem (seja por não entender, ou porque a pauta do editor busca muito mais o ‘sensacional’ que o ‘importante’).

Mas vamos lá! Vou explicar o estudo e os resultados, de modo que você (leitor sem formação superior ou profissional de educação física) poderá aplicar nas suas vidas e vidas das pessoas que lhe são queridas.

Os pesquisadores enviaram acelerômetros (instrumento que permite contar passos) para mais de 100 mil pessoas do Reino Unido (UK Biobank Study). E você não entendeu errado: Foram 100 mil acelerômetros enviados. E não é um equipamento baratinho.

As pessoas que aderiram ao estudo usaram o equipamento por 7 dias, 24h/dia. Mas essas pessoas (média 61 anos; 40 a 79 anos) foram seguidas por ~7 anos (coorte prospectiva).

Em relação a intensidade dos PASSOS, usaram as seguintes métricas e classificações:

* Passos incidentais: <40 passos/min.

* Passos propositivos: ≥40 passos/min.

* Peak-30: média dos 30 min/dia com cadência mais acelerada, não necessariamente consecutivos.



Tiveram outras métricas, mas essas são as mais importantes. Os desfechos principais foram mortalidade por todas as causas, por doenças cardiovasculares (DCV) (coronarianas, AVC e infarto) e por cânceres (limitaram em 13 tipos que já se tem evidências de associação com exercício).

Fizeram ajustes estatísticos para as seguintes covariáveis ​​potenciais: idade, sexo, IMC, raça, escolaridade, status socioeconômico, tabagismo, álcool, consumo de frutas e vegetais, histórico familiar de cânceres e/ou DCV, uso de medicamentos (para colesterol, insulina, hipertensão). Entretanto, senti falta de ajustes para o histórico de atividade física. Considero uma limitação.

E quanto aos RESULTADOS? Seguem:

A amostra final foi de 78.500 pessoas. Ocorreram ~2 a 3 mil mortes e cânceres, e mais de 10 mil DCV. Identificaram que a cada 2000 mil passos adicionais (até o limite de ~10 mil passos) a chance de mortalidade por todas as causas, ou DCV e cânceres DIMINUÍA de 8% a 11%. Ou seja, até 10 mil passos isso chegava a uma proteção próxima de 40%.

Eles fizeram uma outra análise interessante, o que motivou o título desse post: Imagine que 10.000 pessoas aderissem à caminhada peak-30 por 1 ano (ou seja, fazer ~30 min de caminhada na cadência de 75 passos/min, que foi a cadência que gerou melhores resultados... já falarei disso). Nesse caso, entre 8 a 9 pessoas seriam salvas pela CAMINHADA.

O número é "pequeno" porque, claro, se você seguir 10.000 pessoas durante 1 ano, poucas mortes ocorrerão. Mas também pode-se fazer a seguinte reflexão: 'E se a pessoa salva for quem você mais ama?' Não existe 'número pequeno' quando falamos em salvar vidas.

Os autores poderiam ter feito essa contabilidade também para 'pessoas que não adoeceriam', pois doenças impactam muito o sistema de saúde. Seria um dado muito útil.

Outras coisas INTERESSANTES:



1) Para mortalidade por DCV, houve tendência de PIORAR (aumentar) depois de ~9 mil passos.

2) Para mortalidade para todas as causas, não piorou depois de 10 mil passos, mas ficou estável (platô) até ~ 25 mil passos.

3) Para mortalidade por cânceres, continuou melhorando depois de 10 mil passos, embora numa taxa menor.

Essas coisas estão alinhadas com uma revisão que publicamos em 2020 (aqui). Recomendo a leitura. Irá te ajudar bastante a tomar decisões melhores que as recomendações geralzonas do ACSM.

4) Tanto passos incidentais como propositais deram resultados SIMILARES, mostrando que a caminhada não precisa ser sistematizada. É o famoso "caminhe mais, sente-se menos".

5) Viram associações mais fortes (maior magnitude) para cadências de pico de 30 (peak-30), que superou os benefícios dos passos diários totais. Entretanto, com tendência a piorar depois da cadência de ~ 75 passos/min, exceto para cânceres (embora fazer mais de 75 passos/min também não foi melhor).

CONCLUSÕES: Não há número mínimo de passos (mas há máximo) para ter benefício; não precisa necessariamente ser sistematizado; fazer demais não é investimento (isso também vale para a intensidade). Caminhada até ~75 passos/min tá bom demais. E é uma cadência bem tranquila para a maioria das pessoas. Então, uma recomendação que dou: Em vez de caminhar em excesso, inclua TREINO de FORÇA na rotina.

IMPORTANTE: É um estudo observacional, portanto não permite estabelecer com segurança 'causa e efeito'. Mas os resultados não fogem muito de outros estudos que investigam dose resposta, como mostramos no artigo que publicamos em 2020 (aqui).


Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.


 
prof wellington lunz

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes disciplinas (ex: treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br




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