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BIMAGRUMAB: medicamento para obesidade que reduz GORDURA e aumenta MASSA MAGRA

Atualizado: 27 de jun.



Prof. Dr. Wellington Lunz


Em 2021, Heymsfield e Cols publicaram na prestigiada revista JAMA um estudo clínico de fase 2 envolvendo o medicamento bimagrumab, da farmacêutica Novartis.

Como nos últimos anos eu não tenho dedicado muita leitura relacionada a tecido adiposo, esse artigo (e outros envolvendo o mesmo medicamento) passou batido por mim. Mas os resultados desse estudo, que só conheci recentemente, chamam e merecem atenção:

Após 1 ano de intervenção, o grupo que recebeu o medicamento bimagrumab reduziu ~20% de gordura corporal, e ao mesmo tempo aumentou a massa magra (~3,6%) e melhorou a sensibilidade à insulina.

Diferente de outros medicamentos, o mais atraente são os benefícios concomitantes de perda de gordura e ganho de massa magra. Daqui a pouco explicarei melhor o estudo.

Mas, antes, o que mais me atraiu foi o mecanismo de ação desse medicamento. O qual me trouxe insights importantes, os quais compartilharei no próximo post. A postagem de hoje é apenas uma introdução para o próximo post não ficar muito longo.

O bimagrumab é um anticorpo monoclonal humano que se liga ao receptor tipo II da ativina (ActRII). Talvez esse receptor lhe seja estranho, mas é nele que está meu interesse. Isso porque é por esse receptor que a miostatina age inibindo a hipertrofia muscular.



Então, se um medicamento inibe esse receptor, podemos esperar ganho de massa muscular, como de fato ocorreu no estudo que citei. Mas o que impressiona mesmo é a alta redução de gordura corporal. Por que a redução de gordura corporal foi mais expressiva que o ganho de massa magra?

Os insights que me vieram tem a ver com isso, e compartilharei semana que vem (voltarei aqui depois para deixar o link). Na postagem de hoje vou apenas falar desse estudo de Heymsfield et al. (2021), pois esses resultados importam bastante para o post da semana que vem.

Como eu disse, é um estudo clínico de fase 2. Esse tipo de estudo é feito para determinar a eficácia e segurança no grupo alvo, que nesse caso foi de diabéticos tipo 2 com sobrepeso e obesidade.

Os pacientes elegíveis (quase 40 pessoas por grupo) foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber bimagrumab ou placebo via infusão intravenosa, uma dose mensal, por 1 ano (48 semanas). E aqui já está algo bem interessante: Apenas uma dose por mês.

A alocação dos pacientes foi aleatória. Ambos os grupos receberam aconselhamento dietético. A gordura corporal total foi medida por DEXA. Deixe-me reforçar e ampliar a descrição dos resultados:

Ao final do estudo (semana 48) a gordura corporal diminuiu 20,5% (7,3 kg) no grupo bimagrumab e 0,5% no grupo placebo. Como a média nem sempre caracteriza bem os resultados, vale destacar que mais de 75% dos pacientes (vs. 10% do grupo controle) que tomaram o medicamento perderam mais de 15% de gordura corporal. Portanto, o resultado não foi afetado por dados extremos.

Um problema é que não apresentaram as perdas das gorduras visceral, subcutânea e hepática usando a mesma unidade (variou em %, L, kg), o que me impediu saber onde ocorreu a maior perda. Era uma informação importante, pois eu queria saber se realmente essa perda toda de gordura veio apenas desses 3 sítios.

Houve também perda de 9 cm de circunferência da cintura em favor da droga, e praticamente nada no grupo controle. Não houve mudança significativa da relação cintura-quadril (RCQ), fortalecendo a indicação de que a medida da cintura vale muito mais que a RCQ (Ross et al., 2020).

Na semana 48, o grupo bimagrumab induziu ganho de 3,6% (mas foi >5% para homens) de massa magra em comparação com -0,8% no grupo placebo. Houve também resultados significativos para sensibilidade à insulina, o que é muito importante para diabéticos e para a prevenção da diabetes.

Treze por cento dos pacientes descontinuaram por efeitos adversos, mas a perda total da amostra foi de 23%. Os sintomas mais frequentes no grupo bimagrumab foram diarreia e espasmos musculares (41% dos pacientes... é bastante coisa! Os autores relatam que isso ocorreu quase que exclusivamente na primeira dose). Vários outros sintomas foram semelhantes entre os dois grupos.

Entretanto, 8 eventos adversos em 5 pacientes levaram à descontinuação desses pacientes, que eram todos do grupo bimagrumab. Pancreatite ocorreu em 1 paciente, infecção por helicobacter pylori ocorreu em 1 paciente, espasmos musculares em 2 pacientes e 1 paciente apresentou aumento da lipase sérica (relatado duas vezes), somado a dor abdominal superior e colelitíase.

Pelo que entendi, a droga não pôde ter eficácia julgada pela FDA (U.S. Food and Drug Administration) porque parece que os critérios da FDA consideram a perda de peso corporal, e não a perda de gordura corporal. E essa foi uma reclamação dos autores. Embora a reclamação pareça justa (se for verdade), os principais autores também têm conflito de interesse relacionado ao medicamento (ex: patente) e com a farmacêutica Novartis (que financiou o estudo).

Para concluir, os resultados são bem interessantes, em especial pela concomitante perda de gordura com ganho de massa muscular. E ainda não há estudo somado com treinamento físico. O que poderia acontecer quando somado ao treinamento de força?

É provável que isso seja feito em breve. E devo lembrar que em torno de 25% a 30% de estudos de fase 2 não chegam a ter aprovação ao final das 4 fases.

E, importante, não estou fazendo propaganda para o medicamento e para a farmacêutica. Não tenho conflito de interesse. Como disse, meu interesse principal no estudo tem a ver com o mecanismo (via do ActRII).

Então, semana que vem trarei uma postagem com argumentos para defender a seguinte tese:

A melhor forma de reduzir gordura corporal via treinamento de força não é gastando muita energia durante o exercício, mas aumentando hipertrofia muscular’.

E essa tese tem a ver com o mecanismo de ação desse medicamento. Então, fique ligado no próximo post. E te convido a conhecer e se inscrever no meu canal no YouTube.

Por último, em tempos de escritas por inteligência artificial (ex: chatGPT e bard), vale dizer que essa postagem NÃO usa isso. É feita exclusivamente das minhas interpretações. E, se puder, compartilhe e curta para ajudar a projetar a postagem. E se quiser citar essa postagem, pode ser mais ou menos assim:


Lunz, W. Bimagrumab: Medicamento para obesidade que reduz gordura e aumenta massa magra. Ano: 2023. https://www.wellingtonlunz.com.br/blog. Link: https://bit.ly/3QYVbIw. [Acessado em __.__.____].


REFERÊNCIAS:

1 - Heymsfield SB, et al. Effect of Bimagrumab vs Placebo on Body Fat Mass Among Adults With Type 2 Diabetes and Obesity: A Phase 2 Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open 2021;4:e2033457. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2020.33457.

2 - Ross R, et al. Waist circumference as a vital sign in clinical practice: a Consensus Statement from the IAS and ICCR Working Group on Visceral Obesity. Nat Rev Endocrinol 2020;16:177–89. https://doi.org/10.1038/s41574-019-0310-7.



Clique aqui e acesse videoaulas no 'Canal Prof. Wellington Lunz'.




 

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 


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